Adubação Orgânica: alternativa para aumentar a fertilidade do solo

O ataque da Rússia à Ucrânia, iniciado em 24 de fevereiro, pode gerar efeitos negativos para o agronegócio brasileiro. Um dos maiores receios é a possibilidade de haver uma falta de fertilizantes, já que a Rússia é um relevante produtor. A Rússia responde por 23% de todo fertilizante importado em 2021 pelo Brasil.

Uma alternativa para contornar esta situação é a utilização de adubos orgânicos. Sempre que for possível e economicamente viável, deve-se efetuar a adubação orgânica. A adição de matéria orgânica melhora, consideravelmente, as características físicas e biológicas do solo. Os maiores benefícios constatados são:

  • Aumenta a CTC;
  • Diminui a fixação fósforo no solo, aumentando sua disponibilidade para as plantas;
  • Maior disponibilidade de nutrientes às plantas;
  • Maior retenção de água;
  • Maior estabilidade da temperatura do solo.;
  • Estimulação da atividade biológica;
  • Aumento da taxa de infiltração;
  • Maior agregação de partículas do solo.

A adubação orgânica utiliza resíduos que se descartados de forma inadequada causaria impactos ambientais, tendo assim outro aspecto favorável à sua utilização. Além disso, é uma fonte de nutrientes lenta e duradoura, devido ao tempo necessário para que aconteça a decomposição e a mineralização, posteriormente ocorre a absorção dos nutrientes pelas plantas.

A composição nutricional da adubação orgânica, pode não ser balanceada, tornando-se necessária a complementação com fertilizantes minerais. A tabela a seguir mostra a composição química típica de alguns materiais orgânicos utilizados.

Material OrgânicoNPKCaMgSUmidade
(kg/t)%
Cama Compost Barn*217,426,423,17,18,528
Esterco bovino fresco52,6621162
Esterco bovino curtido151221206234
Esterco de aves1487235255
Esterco líquido de porco72512378

    *Composto por 70% de palha de café e 30% de serragem.

     Fonte: Adaptado de Raij et al. (1996); PDPL (2021)

A cama de Compost Barn e os estercos são uma excelente fonte de potássio e nitrogênio, porém apresenta baixos teores de fósforo, justificando, em certos casos, o seu enriquecimento com superfosfato simples.

Quantidades de superfosfato simples a serem adicionadas aos excrementos animais:

ExcrementosDose de Superfosfato simples
Esterco de curral com cama500 g/animal/dia
Estábulo de engorda e aviário30 g/m2*
Pocilgas100 a 150 g/m2*

*Duas vezes por semana.

Fonte: 5ª aproximação (1999)

O principal fator determinante da quantidade de adubo orgânico a ser aplicada é a disponibilidade e a dificuldade de seu manejo, devido à falta de equipamentos adequados para a distribuição no campo, tornando-se uma atividade pouco eficiente e demorada quando comparada com a adubação mineral. Como orientação básica, sugerem-se as seguintes quantidades (5ª aproximação, 1999):

Aplicação em área total:

  • Esterco de curral e compostos = 20 a 40 t/ha
  • Esterco de galinha = 2 a 5 t/ha
  • Esterco líquido ou chorume = 30 a 90 m3/ha

Aplicação localizada (quando feita em covas ou sulcos de plantio):

Cultura de grãos:

  • Esterco de curral e compostos = 10 a 20 t/ha
  • Esterco de galinha = 2 a 3 t/ha

Horticultura:

  • Esterco de curral e composto = 30 a 50 t/ha
  • Esterco de galinha = 5 a 10 t/ha

Covas em geral:

  • Esterco de curral e composto = 10 a 20 L/cova
  • Esterco de galinha e tortas = 3 a 5 L/cova

No caso de aplicações localizadas (sulcos e covas), deve-se misturar o adubo orgânico com a terra, com antecedência mínima de 15 a 20 dias ao plantio, procurando manter umidade suficiente no período.

O confinamento produz esterco como um de seus resíduos, o mesmo deve ser encarado como um subproduto desta atividade, pois se apresenta como fonte fertilizante para o uso na própria propriedade, em áreas de produção de grãos e/ou de volumosos. Realizar a valorização do esterco, através da comparação com o custo de nutrientes presentes em fertilizantes químicos, permite chegar nos valores que podem ser economizados com fertilizantes químicos.

Valoração dos nutrientes presentes nos estercos, de acordo com a composição química apresentada na tabela acima:

ADUBOSR$/kgR$/ kg do nutrienteCama de Compost BarnEsterco bovino frescoEsterco bovino curtidoEsterco de aves
Superfosfato Simples (P2O5)2,7015,00111,0039,00180,00120,00
Ureia (N)5,3011,77247,3058,90176,66164,90
Cloreto de potássio (K2O)6,1010,52277,6563,10220,8673,62
TOTAL (R$/t)  635,95161,00577,52358,52

Fonte: PDPL

            A utilização do esterco pode diminuir consideravelmente os custos de produção, principalmente em uma propriedade de pecuária intensiva. O valor do esterco pode ser maior, caso seja utilizado a valorização também para outros nutrientes e para os micronutrientes.

Apesar dos benefícios da fertilização com esterco, este não pode ser usado como a única fonte de fertilizante, pois não é devidamente equilibrado quanto aos teores de nutrientes. Assim sendo, ainda deve-se equilibrar a adubação com adubos minerais.

André Luís Silva, engenheiro agrônomo residente agrícola na empresa Gestão Pecuária Agricultura Ltda.

Referências

MALISZEWSKI, E. Brasil bate recorde em importação de fertilizantes. Agrolink, 01 de novembro de 2021. Disponível em: <https://www.agrolink.com.br/ fertilizantes/noticia/brasil-bate-recorde-em-importacao-defertilizantes_457908.html>. Acesso em: 05 de março de 2022.

PANIAGO, R. Qual o valor do esterco de confinamento de bovinos?. BeefPoint, 17 de maio de 2006. Disponível em:< https://www.beefpoint.com.br/qual-o-valor-do-esterco-de-confinamento-de-bovinos-28974/#:~:text=Segundo%20revis%C3%A3o%20de%20Pauletti %20%26%20Motta,e%2015%20%25%20de%20mat%C3%A9ria%20seca.>. Acesso em: 07 de março de 2022.

PDPL, Análises químicas da cama de vacas leiteiras, 2021.

RAIJ, B. van et al. (Ed.). Recomendações de adubação e calagem para o Estado de São Paulo. 2.ed.  Campinas: Instituto Agronômico, 1996. (IAC. Boletim Técnico, 100).

RIBEIRO, A. C.; GUIMARÃES, P. T. G. & ALVARES V., V. H. Recomendações para o uso de corretivos e fertilizantes em Minas Gerais; 5ª aproximação. Viçosa, CFSEMG. Comissão de Fertilidade do Solo do Estado de Minas Gerais, 1999. 359p.

SANTIAGO, A. D. & ROSSETTO, R. Árvore do conhecimento: Cana-de-açucar – Adubação Orgânica. EMBRAPA.  Disponível em:< https://www.agencia.cnptia. embrapa.br/gestor/cana-de-acucar/arvore/CONTAG01_37_711200516717.html#>. Acesso em: 05 de março de 2022.

VALVERDE, M. Guerra liga alerta sobre fertilizantes no Brasil. Diário do Comércio, Belo Horizonte, 03 de abril de 2022. Disponível em: < https://diariodocomercio.com.br/agronegocio/guerra-na-ucrania-afeta-o-agronegocio-mineiro/>. Acesso em: 05 de março de 2022.

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