Recentemente, tive um problema na propriedade do meu pai, o caminhoneiro fez o teste de alizarol e o leite foi reprovado, segundo o José Édson que trabalha conosco: o “leite deu ácido” e por isso, foi recusado.
Após esse fato, tentei entender o que estava acontecendo: será que o tanque estava estragado, problemas de limpeza, ou será que era o LINA? E após alguns testes (teste da fervura) constatamos que se tratava do LINA.
Bom e o que é LINA?
Segundo Marques et al. (2007),esse é o leite que precipita em solução alcoólica sem, entretanto, haver acidez elevada. Tal situação está associada à alterações na estabilidade das caseínas, às propriedades físico-químicas do leite, como o equilíbrio salino, e à proporção de cátions divalentes (CHAVEZ et al., 2004).
Diagnosticado o problema, agora era a hora de agir para solucioná-lo. E conversando com outros técnicos, percebi que ainda há muita desinformação! A maioria dos artigos traz como causa um desequilíbrio nutricional, mas não se fala qual! Para solucionar o problema ouvimos as mais diferentes recomendações, como: colocar bicarbonato na comida das vacas, aumentar a quantidade de sal… E por isso, resolvi escrever esse artigo com uma revisão sobre o assunto.
As causas da instabilidade não estão totalmente esclarecidas. Dentre os fatores estudados, a restrição alimentar com consequente subnutrição ou desequilíbrio nutricional se destacam por reduzir a estabilidade do leite no teste do álcool. Vejamos na tabela abaixo, as principais causas relacionadas ao problema.
Causas | Autores |
Subnutrição ou restrição alimentar | Ceballo e hernández(2001), Zanella(2004, 2006), Marques et al (2010) |
Deficiência energética | Ceballo e hernández(2001) |
Desequilíbrio mineral (Ca, P) | Barros(2001), Velloso(1998) |
Estágio de lactação avançada | Zanella(2004), Tsioulpas et al(2007), Marques et al (2010) |
A restrição, provocada pela redução de 40 a 50% da quantidade de alimento oferecida, a um tempo, reduziu a produção leiteira e aumentou a frequência da ocorrência do LINA e/ou reduziu a concentração mínima de etanol necessária para induzir a coagulação do leite (ZANELA et al., 2006).
Segundo Barros (2001), as variações na estabilidade do leite têm sido relacionadas a dietas ou pastos ricos em cálcio, com deficiências ou desequilíbrios minerais (Ca, P, Mg). Velloso(1998) cita que fatores capazes de alterar o equilíbrio cálcio-magnésio, podem ocasionar reações positivas à prova do álcool.
Ponce Ceballo & Hernández (2001) realizaram um estudo em 227 propriedades leiteiras da província de Havana, em 1993. A maior parte dos rebanhos que apresentavam leite instável se caracterizava por apresentar animais com baixa condição corporal e sofrendo subnutrição, e a alimentação atendia a cerca de 50 a 70% das necessidades básicas. Sendo assim, as limitações de energia disponível no tecido epitelial mamário afetam a síntese e secreção dos componentes lácteos, levando à instabilidade.
Quanto ao estádio de lactação: vacas no início da lactação (TSIOULPAS et al., 2007b) apresentaram reduzida estabilidade térmica, assim como aquelas em estádio lactacional avançado manifestaram elevada incidência de LINA, apesar de terem sido bem alimentadas e não apresentarem mastite (MARQUES et al., 2010a), o que foi relacionado aos elevados teores de cálcio iônico do leite (TSIOULPAS et al, 2007).
A partir das causas relacionadas, podemos apontar medidas para solucionar e prevenir essa situação:
- Garantir uma boa nutrição às vacas atendendo sua demanda energética e mineral. Para isso é bom seguir as recomendações de um técnico em nutrição animal (por exemplo: veterinário, zotecnista).
- Ter atenção especial há mudanças bruscas na dieta, principalmente em períodos de transição (seca-águas ou águas-seca).
- Identificar as vacas no rebanho que estão com o problema e segregar o leite das mesmas, até a solução do problema.
Segundo Marques (2010), suplementação de dietas, deficientes em energia e proteína, promoveu o aumento da produção leiteira, da concentração de sólidos e melhorou a estabilidade do leite.
Segue abaixo algumas curiosidades sobre o tema, para produtores e técnicos ficarem atentos:
- Vacas Jersey tem maior predisposição ao LINA;
- Quanto a CCS e Mastite, ainda há uma incerteza sobre a relação com o LINA, não podendo se afirmar que tem uma correlação direta.
- Esse é um problema que afeta muitos pequenos produtores, principalmente em sistema mais extensivo e sobretudo em períodos de transição águas-seca e seca-águas.
- Sobre o tratamento, nenhum dos pesquisadores apontou a colocação de bicarbonato na dieta das vacas como uma opção.
- Não há um medicamento para comprar e aplicar nas vacas para resolver o problema.
E concluindo, o LINA é um problema muito sério e de grande impacto econômico, ainda há muito o que ser estudado e elucidado sobre o assunto mas a luz dos conhecimentos atuais essas são as recomendações que devemos seguir para prevenir e auxiliar produtores e consultores a implementar medidas corretivas eficazes .
(Marcus Vinicius Castro Moreira)
Referência Bibliográfica
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